Em 2019, o Dicionário Oxford escolheu “emergência climática” como o termo do ano. A justificativa foi o aumento da conscientização pública sobre a ciência climática, as inúmeras implicações para as comunidades em todo o mundo e o enorme debate sobre o que António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), chamou de “a questão decisiva do nosso tempo”. Em outro discurso, ele lembrou o óbvio: “Não se negocia com a natureza”. Na crise climática, infelizmente, é tudo superlativo e assustador. Deve-se chamá-la pelo seu nome. A “mudança do clima”, expressão até então corrente, já é uma crise, um colapso, uma emergência.
Não é hora de jogar a toalha, mas de cobrar mudanças, políticas públicas inovativas, investimentos em tecnologia e pesquisa, estímulo aos jovens, promoção de justiça climática, transição para economias de baixo carbono de forma justa e inclusiva etc.
Cada ano é mais quente que o anterior. O Brasil viu o inimaginável – rios amazônicos secos e o Pantanal, maior planície alagada do planeta, perder o aposto e queimar. O reverso é tão ruim quanto: eventos extremos com volumes assombrosos de chuva, mortos por deslizamentos de terra e o drama sem precedentes vivido pelo Rio Grande do Sul. A economista dinamarquesa Inger Andersen, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o Pnuma, deixa o que vivemos hoje ainda mais claro: “A realidade é que a enchente que ocorria a cada 100 anos é a enchente que virá a cada 10 anos, e a de 10 anos será anual. O mesmo com os incêndios. Não podemos mais procrastinar com o clima, temos que agir”.
As crises climática, de biodiversidade e da poluição são o tríplice desafio da humanidade e são todas conectadas. Reduzir a emissão de gases estufa representa menos poluição, menor perda de biodiversidade etc. É preciso tornar as cidades adaptadas e resilientes à crise climática. No Brasil, elas não são. Isso significa enterrar fios elétricos e não culpar as árvores a cada vendaval e consequente queda de energia. Significa deixar de demolir prédios em bom estado para construir novos, transformando recursos naturais em entulho. Significa aumentar o transporte público, torná-lo elétrico e criar incentivos para que a geração de energia seja renovável.
Adaptação aos impactos do clima exige esforços e ideias locais. Londres, por exemplo, tem um plano de adaptação para o caso de uma grande enchente. A cidade é toda mapeada, a prefeitura sabe onde estão as escolas, os hospitais, as estações de metrô, os bombeiros. Na Alemanha se discute em quanto aumentar a largura de diques para torná-los mais altos e conter o avanço do mar. Cidades-esponja são estimuladas, com mais vegetação para absorver a água durante as chuvas fortes e armazená-la para a seca.
Há muitas lições a aprender com o furacão Katrina, que arrasou Nova Orleans em 2005. A geração de energia dos hospitais ficava no subsolo e a inundação os deixou às escuras. Foi preciso transferir a fonte de energia para muitos andares acima. Mas, passados 20 anos, a reconstrução de bairros mais pobres continua sem acontecer, porque custa muito, mesmo para os Estados Unidos.
“Mudança do clima” é pouco para qualificar o tamanho da crise que o mundo já vive. Como bem define o Dicionário Oxford, emergência climática é uma situação em que “é necessária uma ação urgente para reduzir ou interromper a mudança climática e evitar danos ambientais potencialmente irreversíveis”. Tais ações precisam ser realizadas o quanto antes e de forma inclusiva, para que os desfavorecidos, como em Nova Orleans, não sejam os mais afetados. O desafio à nossa frente é massivo.