A Mostra Ecofalante de Cinema é conhecida por abordar temas socioambientais relevantes e urgentes em seus filmes, e a Competição Latino-Americana é um reflexo cinematográfico das questões que impactam o Brasil e todo o continente. Locais que muitos de nós conhecemos apenas através de notícias — como as fronteiras amazônicas e o nosso Brasil profundo — ganham vida na tela e nos levam a uma reflexão profunda sobre a relação entre o homem e a natureza.

Nesta edição, os povos indígenas e seus territórios são temas centrais em grande parte das produções selecionadas para a Competição Latino-Americana. Além disso, os 33 filmes escolhidos também abordam discussões fundamentais sobre racismo, migração e trabalho.

Nos últimos quatro anos, testemunhamos de perto o descaso com os povos indígenas sul-americanos, o avanço desenfreado do garimpo e da agropecuária invasiva e o abandono nas políticas de proteção às florestas. De forma crítica, imediata ou observacional, obras como A Invenção do Outro, Amazônia, A Nova Minamata? e Vento na Fronteira nos trazem um recorte dessas realidades e nos convidam a refletir sobre possíveis mudanças nesse cenário.

Em Odisseia Amazônica, somos transportados para as majestosas águas do rio Amazonas e sua histórica relação com os povos que o habitam, enquanto em No Vazio do Ar testemunhamos a precariedade da aviação, o preconceito e o crime nos céus que encobrem a floresta. Em Aqui en la Frontera, somos confrontados diretamente com a questão da imigração entre fronteiras amazônicas, e em Perlimps, somos convidados a explorar de maneira lúdica a possibilidade de encontrar acordos de paz entre fronteiras e culturas diversas.

No contexto do Pacífico, encontramos semelhanças marcantes com nossas vivências no Sul, como é evidenciado no filme A Ferrugem, que retrata o ato de resistência de viver no campo, assim como na obra A Praia dos Enchaquirados, que aborda a invisibilidade das pessoas transgênero, ou no filme Mamá, que fala sobre o abandono paterno em uma sociedade religiosa e patriarcal que recrimina mulheres e mães solo.

Enquanto víamos nossas florestas e povos indígenas na pauta da mídia, o racismo estrutural continuava sendo ignorado e os movimentos que surgiam para dar voz a isso, como “Vidas Negras Importam”, se tornavam um grito de resistência e existência. Filmes como Exu e o Universo, Diálogos com Ruth de Souza e Deuses do México demonstram que a resiliência, a resistência e a voz dos movimentos sociais são forças que podem mudar o curso da história. É preciso celebrar e honrar os que vieram antes de nós.

Essa seleção de filmes é um convite para repensarmos nosso papel no mundo e na construção de novas narrativas, além de nos instigar a participar de uma transformação significativa em direção a um futuro mais justo e sustentável, onde o meio ambiente e a diversidade cultural sejam valorizados e preservados.