30 de julho de 2021

Territórios Urbanos: Segregação, Violência e Resistência

Novo programa traz 16 filmes sobre a realidade urbana brasileira na 10ª Mostra Ecofalante

Uma das atrações da 10ª Mostra Ecofalante de Cinema, que acontece de forma online e gratuita entre 11 de agosto e 14 de setembro, é o programa especial Territórios Urbanos: Segregação, Violência e Resistência, que consiste em uma seleção de importantes filmes brasileiros realizados nas últimas duas décadas e que tratam da realidade urbana do país. Essas obras, em sua maior parte documentários, são sintomáticas das mudanças socioeconômicas pelas quais o Brasil passou nesse período. Mas, para além disso, elas também escancaram os persistentes problemas que a sociedade e o Estado brasileiros ainda não resolveram e que se inscrevem na geografia das grandes cidades do nosso país. 

Alguns desses filmes já foram alçados à condição de clássicos do cinema nacional. Outros, mais recentes, ainda circulam e continuam a ter impacto, principalmente sobre um público mobilizado em torno de determinadas causas. O que intencionamos com essa mostra é chamar a atenção do espectador para a contribuição que o cinema brasileiro, com seu olhar atento, tem a dar aos debates em torno de urgentes questões urbanas, que muitas vezes se confundem com problemas estruturais de nossa sociedade. Os filmes aqui apresentados, em seu conjunto, revelam as disputas territoriais, as formas de opressão, mas também falam de modos de resistência.

“Corpo Delito”, de Pedro Rocha

Confira a lista completa dos filmes:

* “À Margem da Imagem” (Brasil-SP, 2003, 72 min) – Evaldo Mocarzel

O filme dá voz a moradores de rua da cidade de São Paulo e àqueles que com eles convivem e trabalham cotidianamente em prol de lhes dar assistência. Essa população encontra-se nas ruas pelos mais diversos motivos e, nela, desenvolve uma cultura própria, além de diversas formas de resistir a essa dura realidade. O filme focaliza temas como exclusão social, desemprego, alcoolismo, loucura, religiosidade, espaços públicos contemporâneos, degradação urbana, cidadania, alteridade e o roubo da imagem dessas comunidades. Baseado em estudos da filósofa e pesquisadora Maria Cecília Loschiavo.

Vencedor do prêmio de melhor documentário no Festival de Gramado e no Festival do Rio; prêmio especial do júri no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

* “A Vizinhança do Tigre” (Brasil-MG, 2014, 95 min) – Affonso Uchôa

Juninho, Menor, Neguinho, Adilson e Eldo são jovens moradores do bairro Nacional, periferia de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte. Divididos entre o trabalho e a diversão, o crime e a esperança, cada um deles terá de encontrar modos de superar as dificuldades e domar o tigre que carregam dentro das veias.

Vencedor do prêmio da Mostra Aurora e do júri da crítica na Mostra de Tiradentes; prêmio da crítica no Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba; melhor filme no CachoeiraDoc – Festival de Documentários de Cachoeira; melhor direção no Fronteira – Festival Internacional do Filme Documentário e Experimental de Goiânia.

“À Margem da Imagem”, de Evaldo Mocarzel

* “Atos dos Homens” (Brasil-SP, 2006, 78 min) – Kiko Goifman

Inicialmente, este seria um documentário sobre sobreviventes de chacinas no Rio de Janeiro. Porém, no curso da preparação das filmagens, um novo e hediondo massacre perpetrado por policiais tem lugar na Baixada Fluminense. A matança ocorrida nas cidades de Nova Iguaçu e Queimados faz com que a equipe do projeto acabe se voltando para o cotidiano dos moradores da região atingida, escancarando a profunda desigualdade social e a banalização da morte, modo corriqueiro de resolução de conflitos em algumas periferias urbanas do país.

Selecionado para os festivais de Berlim, Guadalajara, Bafici-Buenos Aires e Montevidéu.

* “Auto de Resistência” (Brasil-RJ, 2018, 105 min) – Natasha Neri e Lula Carvalho

Um acompanhamento dos casos de homicídios cometidos pela Polícia Militar do Rio de Janeiro classificados como “autos de resistência”, isto é, legítima defesa. Durante a tramitação dessas ocorrências na justiça, fica evidente o padrão de imprudência da corporação em relação a elas: investigações esdrúxulas e perícias defeituosas, que levam 98% dos inquéritos a serem arquivados. O filme acompanha a trajetória de personagens que lidam com essas mortes em seu cotidiano, mostrando o tratamento dado pelo Estado a esses casos, desde o momento em que um indivíduo é morto, passando pela investigação da polícia, até as fases de arquivamento ou julgamento por um tribunal do júri.

Vencedor do prêmio de melhor filme brasileiro no É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários.

“Branco Sai, Preto Fica”, de Adirley Queirós

* “Branco Sai, Preto Fica” (Brasil-DF, 2014, 95 min) – Adirley Queirós

Tiros em um baile de black music na periferia de Brasília ferem dois homens, que ficam marcados para sempre. Um terceiro vem do futuro para investigar o acontecido e provar que a culpa é da sociedade repressiva.

Vencedor dos prêmios de melhor filme, melhor ator, melhor direção de arte, prêmio da crítica, Prêmio Saruê e Prêmio Exibição TV Brasil no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro; melhor filme, melhor ator, melhor montagem, melhor captação de som direto e melhor edição de som na Mostra Brasília (Festival de Brasília do Cinema Brasileiro); melhor filme no Festival do Uruguai; melhor filme latino-americano no Festival de Mar del Plata; prêmio especial do júri e prêmio da crítica no Festival Cartagena; melhor filme internacional no Festival Pachamama – Cinema de Fronteira; Prêmio Olhares Brasil e prêmio especial do júri no Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba; melhor filme e prêmio do público no CachoeiraDoc – Festival de Documentários de Cachoeira; melhor desenho de som no Festival de Vitória; menção honrosa da Mostra Aurora e do júri da crítica na Mostra de Tiradentes.

* “Corpo Delito” (Brasil-CE, 2017, 74 min) – Pedro Rocha

Ivan, de 30 anos, acaba de sair da cadeia depois de oito anos preso. Ele agora está de volta à sua casa, de volta ao convívio com sua esposa e sua filha, que ele mal conhece. É uma chance de retomar a vida; porém, ele ainda não está livre, sua liberdade é condicional e, por isso, seus passos são controlados por uma tornozeleira eletrônica. Apenas o trajeto da casa ao trabalho é permitido, mas Ivan não se conforma e oscila constantemente entre o dever de ficar em casa e o desejo de ganhar a rua. Se ceder à tentação, porém, estará arriscando o benefício da progressão de sua pena. 

Selecionado para o Dok Leipzig – Festival Internacional de Documentário e Animação de Leipzig, para o forumdoc.bh – Festival Etnográfico e Documentário de Belo Horizonte e para a Mostra de Tiradentes.

“Era o Hotel Cambridge”, de Eliane Caffé

* “Elevado 3.5” (Brasil-SP, 2007, 75 min) – João Sodré, Maíra Buhler e Paulo Pastorelo

O mundo de pessoas que se cruzam ao longo dos 3,5 quilômetros do Elevado Presidente João Goulart (nomeado anteriormente Elevado Presidente Costa e Silva e popularmente conhecido como Minhocão) – uma via expressa construída na região central da cidade de São Paulo durante a ditadura militar (1964-1985). Do nível da rua ao último andar, o filme revela diferentes pontos de vista e mergulha nas histórias dos personagens.

Vencedor do prêmio de melhor filme brasileiro no É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários; selecionado para os festivais de Bogotá, Biarritz e do Cinema Latino-Americano de Trieste. 

* “Era o Hotel Cambridge” (Brasil-SP/França/Espanha, 2016, 120 min) – Eliane Caffé

No limite entre o documentário e a ficção, o filme narra a trajetória de refugiados recém-chegados ao Brasil que, junto com trabalhadores sem-teto, ocupam um velho edifício abandonado no centro da cidade de São Paulo. Em meio à tensão diária da ameaça do despejo, revelam-se dramas, situações cômicas e diferentes visões de mundo.

Vencedor do prêmio do público para filme brasileiro de ficção na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo; melhor montagem, prêmio do público e prêmio da crítica no Festival do Rio; menção honrosa do Prêmio Spanish Cooperation no Festival de San Sebastián; melhor filme e melhor atuação no Festival Pachamama – Cinema de Fronteira; melhor filme, melhor atriz e prêmio da crítica no Fest Aruanda – Festival de Aruanda do Audiovisual Brasileiro; melhor longa-metragem internacional (Prêmio Periférica Cine) e melhor longa-metragem latino-americano (Prêmio CineMigrante/OIM) no Festival Internacional Cinemigrante (Argentina); menção honrosa no Festival de Cinema e Fórum de Direitos Humanos (Suíça).

“Futuro Junho” (Brasil-RJ, 2015, 100 min) – Maria Augusta Ramos

O filme apresenta o retrato de um momento chave da história do Brasil, focando o cotidiano de quatro personagens que vivem na maior cidade do país. As realidades de um economista e analista do mercado financeiro, de um metalúrgico da Volkswagen, de um motoboy e de um metroviário acabam reforçando diferentes aspectos do cenário socioeconômico brasileiro em um período de tensão social. Este documentário é construído a partir da observação do cotidiano dessas pessoas nas três semanas que antecedem a abertura dos jogos da Copa do Mundo da FIFA. 

Vencedor do prêmio de melhor filme e menção honrosa do prêmio da crítica no Janela Internacional de Cinema do Recife; melhor direção de documentário no Festival do Rio; selecionado para o Festival de Documentários de Yamagata (Japão).

“Meu Corpo É Político”, de Alice Riff

* “Mataram Meu Irmão” (Brasil-SP, 2013, 77 min) – Cristiano Burlan

Ao reconstituir os detalhes da morte de seu irmão aos 22 anos, o cineasta Cristiano Burlan lança-se em uma jornada pessoal que o leva a desvelar certos padrões no círculo da violência atuante nos bairros da periferia paulistana e, em particular, no Capão Redondo, onde ele morava com a família. Ao investigar as razões pelas quais o irmão acabou se envolvendo com drogas e roubo de carros, o diretor expõe partes de sua própria história familiar. Os depoimentos de parentes e amigos trazem à tona os destinos de diversos personagens, mapeando um histórico de dolorosas feridas emocionais.

Vencedor do prêmio de melhor filme brasileiro e prêmio da crítica no É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários; melhor documentário (voto da crítica) no Festival Sesc Melhores Filmes; Prêmio Governador do Estado para Cultura na categoria Cinema; menção honrosa de melhor documentário no Cinesul – Festival Ibero-Americano de Cinema e Vídeo.

* “Meu Corpo É Político” (Brasil, 2017, 71 min) – Alice Riff

O filme acompanha o cotidiano de quatro militantes LGBTQIA+ que vivem em periferias de São Paulo. Estão em foco sua intimidade e o contexto social urbano no qual estão inseridos. Questões contemporâneas prementes da população trans e seus campos de disputas políticas são mostrados sem tabus e trazendo o ponto de vista das personagens retratadas.

Vencedor do prêmio de melhor filme brasileiro no Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba; melhor filme no Lovers – Festival LGBTQI de Turim; selecionado para os festivais Visions du Réel, Bafici-Buenos Aires e Havana.

“Notícias de Uma Guerra Particular”, de João Moreira Salles e Katia Lund

* Notícias de Uma Guerra Particular” (Brasil-RJ, 1999, 57 min) – João Moreira Salles e Katia Lund

O filme apresenta a realidade da violência urbana na cidade do Rio de Janeiro no final da década de 1990, partindo do cotidiano no morro Dona Marta. Por meio de depoimentos de moradores, traficantes e policiais, um cenário de insegurança, corrupção e injustiças vai se revelando. 

Vencedor do prêmio de melhor filme da competição brasileira e menção especial da competição internacional no É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários; Prêmio Margarida de Prata da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

* “O Caso do Homem Errado” (Brasil-BA/RS, 2017, 77 min) – Camila de Moraes

O operário negro Júlio César de Melo Pinto foi executado em Porto Alegre pela Polícia Militar nos anos 1980. A história do jovem é contada através de depoimentos como o do fotógrafo que fez as imagens que tornaram o caso conhecido e o da viúva do operário, além de nomes respeitados da luta pelos direitos humanos e do movimento negro no Brasil.

Vencedor do prêmio de melhor documentário no LABRFF – Festival do Cinema Brasileiro de Los Angeles; melhor filme no Festival Cine Latino de Punta del Este; selecionado para os festivais de Gramado e Latino-Americano de São Paulo. 

* “O Prisioneiro da Grade de Ferro (Autorretratos)” (Brasil-SP, 2003, 126 min) – Paulo Sacramento

O sistema carcerário brasileiro visto de dentro: um ano antes da desativação da Casa de Detenção do Carandiru (São Paulo), detentos aprendem a utilizar câmeras de vídeo e documentam o cotidiano do maior presídio da América Latina.

Vencedor dos prêmios de melhor filme da competição internacional, melhor filme da competição brasileira, Prêmio ABD – Associação Brasileira de Documentaristas e Prêmio MinC no É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários; prêmio da crítica para documentário no Festival de Gramado; menção especial da mostra Future Film / Digital no Festival de Veneza; prêmio especial do júri no Festival do Rio; melhor direção de documentário no Festival de Tribeca; melhor documentário no Festival de Málaga e no Grande Prêmio TAM do Cinema Brasileiro (atual Grande Prêmio do Cinema Brasileiro); melhor filme no Festival de Leeds; melhor documentário de diretor estreante no Festival Latino de Los Angeles; Prêmio APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte para melhor diretor estreante; melhor direção no Prêmio Fiesp/Sesi do Cinema Paulista; medalha de prata no Filmmaker Doc Festival (Itália).

“O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas”, de Paulo Caldas e Marcelo Luna

* “O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas” (Brasil-PE, 2000, 75 min) – Paulo Caldas e Marcelo Luna

Dois personagens reais formam o eixo deste documentário: Helinho, justiceiro, 21 anos, conhecido como “Pequeno Príncipe”, é acusado de matar 65 bandidos; Garnizé, músico, 26 anos, componente da banda Faces do Subúrbio, militante político e líder comunitário, usa a cultura para enfrentar a difícil sobrevivência na periferia. Os dois são filhos de uma guerra social silenciosa, que é travada diariamente nos subúrbios das grandes cidades brasileiras.

Selecionado para os festivais de Veneza e Roterdã; prêmio do público no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro; Prêmio GNT de Renovação de Linguagem no É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários; Prêmio Gran Coral de segundo melhor documentário no Festival de Havana; melhor filme na Jornada de Cinema da Bahia; melhor direção no Festival de Cuiabá.

* “Um Lugar ao Sol” (Brasil-PE, 2009, 71 min) – Gabriel Mascaro

Moradores ricos que vivem muito acima da realidade das ruas discutem uma vida na qual o privilégio cria um universo à parte. 

Vencedor do prêmio de melhor documentário no FIDOCS – Festival de Documentários de Santiago; menção especial do júri no Bafici-Buenos Aires; selecionado para os festivais Visions du Réel, CPH:DOX, Los Angeles, Havana, Cartagena, Miami, Málaga, Toulouse, Uruguai, Três Continentes de Nantes e Bratislava.

A programação completa da 10ª Mostra Ecofalante de Cinema será divulgada em breve.