17 de setembro de 2020

Mostra Ecofalante divulga filmes premiados na 9ª edição

O longa brasileiro Indianara é o grande vencedor da Competição Latino-Americana da 9ª Mostra Ecofalante de Cinema. O documentário dirigido por Aude Chevalier-Beaumel e Marcelo Barbosa acompanha a revolucionária Indianara Siqueira, uma militante que luta com seu bando pela sobrevivência das pessoas transgêneras no Brasil. A obra foi premiada com o troféu Ecofalante e R$ 15 mil na noite desta quarta-feira, 16 de setembro, na Cerimônia de Premiação do evento, transmitida ao vivo pelo Facebook e Youtube.

Segundo o júri, composto por Beth Formaggini (cineasta), Caru Alves (diretora, produtora e roteirista) e Kiko Goifman (antropólogo e diretor), Indianara “é um filme que tem uma personagem inacreditável, uma personagem completamente surpreendente, forte e urgente. Ao mesmo tempo, o olhar da direção é muito cuidado. É um filme interessantíssimo, que não é do passado nem do futuro, é um filme do presente”.

“Indianara”, de Aude Chevalier-Beaumel e Marcelo Barbosa

O longa Estou Me Guardando para Quando o Carnaval Chegar, de Marcelo Gomes, recebeu menção especial do júri “por fazer uma crítica sagaz e criativa dos efeitos do empreendedorismo em uma população rural do Pernambuco, revelando a face mais brutal da indústria do tecido”. O colombiano Suspensão, de Simón Uribe, também recebeu menção especial; segundo o júri, “é um documentário de grande força estética e narrativa que nos faz refletir sobre a reação da natureza às mudanças climáticas e às políticas desastrosas de governos latino-americanos, que nós bem conhecemos por aqui, com relação ao meio ambiente. Suspensão nos faz perceber com todos os nossos sentidos, através de uma linguagem inovadora, a grandiosidade da Floresta Amazônica e a fragilidade das suas populações”.

O documentário Soldados da Borracha, de Wolney Oliveira, foi o vencedor do Prêmio do Público na categoria longa-metragem. O filme documenta a saga de cerca de 60 mil brasileiros enviados para a região amazônica pelos governos do Brasil e dos Estados Unidos durante a segunda Guerra Mundial em um mirabolante plano para extrair látex, material estratégico imprescindível para a vitória dos Aliados.

“Soldados da Borracha”, de Wolney Oliveira

O Prêmio do Júri de Melhor Curta foi para Mamapara, de Alberto Flores Vilca, “por fazer um retrato comovente que consegue capturar a dignidade de uma mulher solitária que vive no altiplano peruano, fazendo uma síntese da América Latina em toda a sua complexidade”. A coprodução Peru/Argentina/Bolívia retrata Honorata Vilca, uma senhora analfabeta de ascendência quíchua que mora com seu cão e se dedica à venda de doces. O curta ganhou o troféu Ecofalante e R$ 5 mil de prêmio.

“Mamapara”, de Alberto Flores Vilca

O colombiano O Delegado, de Samuel Moreno Alvarez, recebeu menção especial do júri na categoria curta-metragem “por tratar de questões socioambientais importantíssimas, inclusive sobre a questão indígena; por ser uma mistura, ou uma dificuldade de identificar, se é um documentário ou uma ficção; e principalmente pela complexidade de um personagem extremamente rico”. O curta brasileiro Guaxuma, de Nara Normande, também recebeu menção especial; segundo o júri, o filme é “um libelo ao amor, à amizade, à liberdade de criação e de gênero, tão importante nesses tempos de avanço do autoritarismo e da censura no Brasil. Uma animação inovadora que mostra as transformações na vida de uma menina e de um lugar”. 

O Prêmio do Público na categoria curta-metragem foi para Resplendor, de Claudia Nunes e Erico Rassi, que aborda um capítulo ainda muito obscuro da nossa história: a existência de um centro de detenção indígena em Minas Gerais chamado Reformatório Krenak durante a ditadura militar. O documentário mostra como funcionou esse campo de concentração e as consequências desse trauma coletivo para os povos indígenas afetados.

Resplendor, de Claudia Nunes e Erico Rassi

Concurso Curta Ecofalante

O grande vencedor do Concurso Curta Ecofalante foi O Verbo Se Fez Carne, de Ziel Karapotó, da Universidade Federal de Pernambuco. No filme, o diretor utiliza seu corpo para denunciar cinco séculos de colonização e suas consequências nos povos originários. Segundo o júri do Concurso Curta, composto por Felipe André Silva (cineasta e escritor), Gabriela Yamaguchi (Diretora de Sociedade Engajada do WWF-Brasil) e Kênia Freitas (professora, crítica e curadora de cinema), o filme foi escolhido “por abordar de forma poética e fabular temas centrais ao cinema brasileiro como a colonização e a perseguição ainda permanente dos povos indígenas, com uma experimentação formal e performática precisa e incisiva”. O curta ganhou o troféu Ecofalante e R$ 4 mil de prêmio.

O Verbo Se Fez Carne, de Ziel Karapotó

O júri concedeu menções especiais a dois filmes do Concurso: Território: Nosso Corpo, Nosso Espírito, de Clea Torres e João Paulo Fernandes (da Universidade Federal de Mato Grosso), “por construir uma narrativa com características cruciais do cinema documental – a representação a partir das falas das mulheres indígenas, a conexão do público à defesa dos povos dos territórios e o chamado a olhar – rostos, gestos e seus significados”; e Estado de Neblina, de Bruno Ramos (do Centro Universitário Senac, de São Paulo), “pela proposta criativa de unir um cinema social e atento com a experimentação da ficção científica, criando assim uma distopia que se utiliza do olhar sobre uma infância perdida para falar do agora e de que caminhos estamos trilhando”.

O vencedor do Prêmio do Público foi Hoje Sou Felicidade, dos diretores João Luís e Tiago Aguiar (da Universidade Federal de Pernambuco). O curta tem como protagonista Aldir Felicidade: negro, cadeirante, periférico e intérprete de samba 14 vezes campeão de desfile das escolas de samba no carnaval de Recife.

Hoje Sou Felicidade, de João Luís e Tiago Aguiar

Novos prêmios do público

Novidade desta edição, a Mostra Ecofalante criou dois novos prêmios escolhidos pelo público: Melhor Filme do Panorama Internacional Contemporâneo e Melhor Filme da Mostra. 

No Panorama Internacional Contemporâneo, o Prêmio do Público foi para o australiano Triste Oceano, de Karina Holden. Através de entrevistas com apaixonados ativistas, o filme desvela a história das mudanças em nosso oceano para defender a necessidade de preservá-lo.

Já o vencedor de Melhor Filme Longa-Metragem da Mostra pelo Público foi o longa Soldados da Borracha, de Wolney Oliveira.

“Triste Oceano”, de Karina Holden


LISTA PREMIADOS 9ª MOSTRA ECOFALANTE

9ª Mostra Ecofalante

Melhor longa-metragem pelo público

Soldados da Borracha – Wolney Oliveira (Brasil, 2019, 82′)

Panorama Internacional Contemporâneo

Melhor filme pelo público

Triste Oceano – Karina Holden (Austrália, 2017, 76′)

Competição Latino-Americana

Melhor longa pelo júri

Indianara – Aude Chevalier-Beaumel e Marcelo Barbosa (Brasil, 2019, 92′)

Menção especial longa

Estou Me Guardando para Quando o Carnaval Chegar – Marcelo Gomes (Brasil, 2019, 85′)

Suspensão – Simón Uribe (Colômbia, 2019, 73′)

Melhor longa pelo público

Soldados da Borracha – Wolney Oliveira (Brasil, 2019, 82′)

2º lugar da escolha do público (longas)

Amazônia Sociedade Anônima – Estêvão Ciavatta (Brasil, 2019, 72′)

3º lugar da escolha do público (longas)

Indianara – Aude Chevalier-Beaumel e Marcelo Barbosa (Brasil, 2019, 92′)

Melhor curta pelo júri

Mamapara – Alberto Flores Vilca (Peru/Argentina/Bolívia, 2020, 17′)

Menção especial curta

O Delegado – Samuel Moreno Alvarez (Colômbia, 2019, 26′)

Guaxuma – Nara Normande (Brasil, 2018, 14′)

Melhor curta pelo público

Resplendor – Claudia Nunes e Erico Rassi (Brasil, 2019, 52′)

2º lugar da escolha do público (curtas)

Por Trás da Cortina Verde – Caio Silva Ferraz e Paulo Plá (Brasil, 2019, 29′)

3º lugar da escolha do público (curtas)

Mitos Indígenas em Travessia – Julia Vellutini e Wesley Rodrigues (Brasil, 2019, 22′)

Concurso Curta Ecofalante

Melhor Curta Ecofalante pelo júri

O Verbo Se Fez Carne – Ziel Karapotó – Universidade Federal de Pernambuco (Brasil, 2019, 6′)

Menção especial

Território: Nosso Corpo, Nosso Espírito – Clea Torres e João Paulo Fernandes, Universidade Federal de Mato Grosso (Brasil, 2019, 27′)

Estado de Neblina – Bruno Ramos, Centro Universitário Senac (Brasil, 2019, 19′)

Prêmio do público

Hoje Sou Felicidade – João Luís e Tiago Aguiar, Universidade Federal de Pernambuco (Brasil, 2019, 20′)

2º lugar da escolha do público

Ângelo – Mariana Machado, Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil, 2020, 28′)

3º lugar da escolha do público

Cidade de Quem Corre – Fernando Martins, curso É Nóis Na Fita (Brasil, 2019, 11’)