Entre os dias 17 e 23 de outubro, Santos receberá a itinerância da 8ª Mostra Ecofalante de Cinema, considerada como o mais importante evento audiovisual sul-americano dedicado à temática socioambiental.
Após a exibição de 10 filmes no Sesc Santos em setembro, na Itinerância Sesc, a Mostra Ecofalante levará sessões a mais cinco locais da cidade: Cine Arte Posto 4, Museu da Imagem e do Som de Santos (MISS), Cine ZN, Vila Criativa – Morro da Penha e Vila Criativa – Vila Progresso. Serão 38 filmes de 17 países, trazendo reflexões sobre temas urgentes ligados a questões socioambientais contemporâneas.
Fazem parte da itinerância os filmes de diversos programas da Mostra Ecofalante: a Homenagem a Silvio Tendler, o Panorama Internacional Contemporâneo, a Mostra Brasil Manifesto, a Competição Latino-Americana e a Sessão Infantil. Todas as exibições serão gratuitas e abertas ao público.
Homenagem
Este ano, a Mostra Ecofalante homenageia o cineasta carioca Silvio Tendler, realizador dos documentários brasileiros que bateram recorde de público nas salas de cinema do país. São exibidas três recentes obras do diretor, entre elas “O Fio da Meada” (Brasil, 2019, 77’), que estreou na edição mais recente da Mostra. O filme acompanha a luta de povos tradicionais brasileiros contra a urbanização opressora, denunciando a violência no campo e nas comunidades tradicionais. Caiçaras, quilombolas e indígenas lutam para sobreviver e para tentar impedir que suas reservas naturais sejam destruídas pelo processo de urbanização.
Na programação está também “Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado de Cá” (Brasil, 2006, 90’). Quando o mundo estava pautado pelo pensamento único da globalização, o professor Milton Santos foi a voz discordante denunciando as perversidades do que chamou de “globaritarismo”, sistema econômico que provoca a concentração de riqueza entre os ricos e que distribui mais pobreza para os desfavorecidos. O longa-metragem apresenta a última entrevista do geógrafo, na qual ele traça um painel das desigualdades entre o Norte rico e o mundo do Sul saqueado, apresentando alternativas e um prognóstico otimista sobre o futuro da humanidade.
Já “Utopia e Barbárie” (Brasil, 2009, 120’) é um road-movie que passa pela Itália, Estados Unidos, Brasil, Vietnã, Cuba, Uruguai e Chile, entre outros países. A produção focaliza lugares e protagonistas da história, a fim de reconstruir uma narrativa do mundo a partir da Segunda Guerra Mundial. Mas tão importante quanto os temas retratados é o olhar do autor, que se constrói à medida em que o filme vai acontecendo, de maneira a dar voz a diferentes personagens, independentemente de suas orientações político-partidárias, com o objetivo de chegar a um rico painel de nossa época.
Panorama Internacional Contemporâneo
O Panorama Internacional Contemporâneo traz filmes premiados em diversos festivais internacionais, representando todos os eixos temáticos que fizeram parte da 8ª Mostra Ecofalante: Cidades, Economia, Povos&Lugares, Recursos Naturais, Saúde, Sociobiodiversidade e Trabalho. No total, são 15 títulos programados, representando 9 países: Alemanha, Bélgica, Canadá, Estados Unidos, França, Índia, Paquistão, Polônia e Reino Unido.
A temática Saúde (uma das novidades da 8ª edição da Mostra) tem duas obras nesta itinerância. “Frente Atômica” (EUA, 2017, 96’) trata de cidadãos de uma cidade norte- americana que lutam contra a negligência governamental e corporativa que levaram ao despejo permanente de resíduo nuclear em duas comunidades de St. Louis. A produção foi vencedora dos prêmios de melhor documentário no International Docs Awards e no Festival de Uranium, entre outras premiações, e sua diretora, Rebecca Cammisa, já havia conquistado o Oscar de melhor documentário em 2012, por “God is The Bigger Elvis”. Já em “Ebola: Sobreviventes” (Serra Leoa/EUA, 2018, 86’) o cineasta Arthur Pratt apresenta um retrato de Serra Leoa durante o surto de Ebola, expondo a complexidade da epidemia e da agitação sócio-política que a envolve.
Povos&Lugares, uma das temáticas favoritas do público do Panorama Internacional Contemporâneo, reúne cinco títulos, entre eles “Pra Cima, Pra Baixo e Pros Lados: Cantos de Trabalho” (Índia, 2017, 83’), selecionado pelo prestigiado Festival de Documentários de Amsterdã, o IDFA (considerado a “Cannes” dos filmes documentais). Dirigido por Anushka Meenakshi e Iswar Srikumar, retrata uma aldeia no estado indiano de Nagaland, perto da fronteira com Myanmar, com cerca de 5.000 habitantes, quase todos cultivando arroz para consumo próprio. Nele, o ritmo e o movimento de capinar, arar, plantar e colher é acompanhado por músicas e letras que ecoam pelas colinas. Conforme a estação progride, o tom muda e a música fica cada vez mais hipnótica. Em “Ma’Ohi Nui” (Bélgica, 2018, 113’), de Annick Ghijzelings, surge uma outra face da colonização contemporânea na Polinésia francesa, nascida dos 30 anos de testes nucleares. Focaliza o impulso vital do povo Maohi tentando sobreviver e buscar o caminho da independência. A multipremiada animação “Obon” (Alemanha, 2018, 15’), de André Hörmann e Anna Samo, foi indicado ao Oscar e selecionada para o badalado Sundance Festival. O curta-metragem focaliza uma sobrevivente ao bombardeio atômico de Hiroshima (Japão): no meio da destruição total, ela encontra um momento de felicidade. Em “A Ausência dos Damascos” (Paquistão/Alemanha, 2018, 49’), de Daniel Asadi Faezi, uma aldeia nas montanhas é atingida por um deslizamento de terra. O que resta são as pessoas e suas histórias, transmitidas de uma geração para outra. “O Botanista” (Canadá, 2017, 20’), de Maude Plante-Husaruk e Maxime Lacoste-Lebuis, se passa após a queda da União Soviética, quando o Tajiquistão mergulhou em uma devastadora guerra civil. Uma fome atingiu a região montanhosa do Pamir, onde Raïmberdi, um botânico apaixonado e engenhoso, construiu sua própria estação hidrelétrica para ajudar sua família a sobreviver à crise.
Em Cidades, a programação conta com “A Cidade do Futuro” (EUA, 2017, 9’), de Chad Freidrichs, filme que mostra o projeto Minnesota Experimental City, uma tentativa futurista de resolver problemas urbanos criando uma cidade nova a partir do zero.
Representando o eixo Sociobiodiversidade, “A História do Porco (Em Nós)” (Bélgica, 2017, 120’), de Jan Vromman, aborda nossa relação com esse animal que, por sua gula, se torna metáfora para a infinita ganância humana. O filme foi destaque em eventos internacionais, como os festivais Vision du Réel e European Film Festival.
Em Recursos Naturais, destaca-se “Vulcão de Lama: A Luta Contra a Injustiça” (EUA, 2018, 80’), de Cynthia Wade e Sasha Friedlander, que conta a luta de moradores que tiveram suas vilas soterradas por um tsunami de lama em ebulição. Consagrada mundialmente, a diretora Cynthia Wade ganhou mais de 40 prêmios, com destaque para um Oscar em 2008, além de uma segunda indicação em 2013. Já a animação “Carga Alheia” (França, 2017, 6’) de Auguste Denis, Emmanuelle Duplan, Valentin Machu e Melanie Riesen, acompanha os dias vividos por um personagem que vive, trabalha, come e dorme em seu navio de carga. Um dia, ele fica sem comida e, para não morrer de fome, deve sair de sua rotina de conforto.
A temática Trabalho traz três produções. O premiado “A Verdade Sobre Robôs Assassinos” (EUA, 2018, 83’), de Maxim Pozdorovkin, mostra como os humanos estão se tornando cada vez mais dependentes de robôs e traz os vários pontos de vista, de engenheiros a jornalistas e filósofos, que falam sobre diferentes situações em que os robôs causaram a morte de seres humanos e como eles representam uma ameaça para a sociedade. “Stratum” (Reino Unido, 2018, 12’), de Jacob Cartwright e Nick Jordan, explora a genealogia social, cultural e ecológica de uma região pós-industrial. Já “Sinfonia Industrial” (Polônia, 2018, 61’), de Jaśmina Wójcik, trabalha com sons e memória do corpo, fazendo com que os ex-operários de uma fábrica reencenem um dia de trabalho.
Finalmente, no eixo Economia, está “Golpe Corporativo” (Canadá/EUA, 2018, 90’), de Fred Peabody, que retrata como o Presidente Trump é o resultado de fracassadas políticas globalistas neoliberais e um “golpe corporativo”, no qual corporações e bilionários gradualmente assumiram o controle do processo político. No filme estão as histórias das vítimas finais – classe trabalhadora e pessoas pobres em “zonas de sacrifício”.
Mostra Brasil Manifesto
Novidade desta edição, a Mostra Brasil Manifesto é dedicada a filmes que constroem um retrato denso e agudo da atualidade do país. Neste programa está “O Amigo do Rei” (Brasil, 2019, 142’), híbrido de documentário e ficção que estreou na 8ª Mostra Ecofalante. O longa-metragem tem como tema a maior tragédia ambiental da história brasileira: o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG), e suas consequências. O trabalho anterior do diretor André D’Elia, “Ser Tão Velho Cerrado”, foi o vencedor em 2018 do prêmio do público da Mostra Ecofalante.
Já “Amazônia, o Despertar da Florestania”, (Brasil, 2018, 111’), documentário dirigido por Christiane Torloni e Miguel Przewodowski, aborda como o meio ambiente vem sendo tratado desde o início do século 20. O filme resgata personagens históricos e reúne depoimentos de representantes dos mais diversos segmentos ligados ao tema – a lista inclui indígenas, ambientalistas, jornalistas, artistas e intelectuais, entre outras pessoas que vêm lutando para preservar esse legado.
Competição Latino-Americana
A Competição Latino Americana traz 13 filmes, produzidos no Brasil, Colômbia, México e Venezuela, incluindo os vencedores dos prêmios de público, de melhor longa-metragem e de melhor curta-metragem, respectivamente: “GIG – Uberização do Trabalho” (Brasil, 2019, 60’), uma abordagem do trabalho mediado por aplicativos e plataformas digitais; “Está Tudo Bem” (Venezuela/Alemanha, 2018, 70’), que retrata a crise do sistema de saúde venezuelano; e “Palenque” (Colômbia, 2017, 25’), uma ode à pequena cidade colombiana San Basilio del Palenque, o primeiro povoado das Américas a se libertar do domínio europeu.
Entre os destaques brasileiros desta seção está “Empate” (Brasil, 2018, 90’), documentário de Sérgio de Carvalho que dá voz aos protagonistas do movimento seringueiro das décadas de 1970 e 80 contra o desmatamento no estado do Acre, refletindo como este momento histórico ecoa ainda hoje na Amazônia e no resto do mundo. Já “Filhos de Macunaíma” (Brasil, 2019, 90’), de Miguel Antunes Ramos, conta a história de três famílias indígenas que vivem na cidade de Boa Vista, no norte do Brasil.
Destaca-se ainda “Um Filósofo na Arena” (México/Espanha, 2018, 100’), sobre o filósofo francês Francis Wolff, grande fã de touradas, que decide fazer uma viagem pela França, México e Espanha acompanhado por dois cineastas mexicanos que nada sabem sobre esse mundo. Ao longo da jornada, eles encontram vários personagens, com os quais refletem sobre a relação dos seres humanos com os animais e a natureza, e, acima de tudo, sobre a nossa relação com a morte e o significado da jornada que chamamos vida.
Sessão Infantil
O Cine ZN, a Vila Criativa – Morro da Penha e a Vila Criativa – Vila Progresso receberão a Sessão Infantil da Mostra Ecofalante, que traz cinco curtas-metragens para introduzir às crianças, de maneira lúdica, uma gama de questões socioambientais contemporâneas.
Os curtas que fazem parte desta sessão foram exibidos em grandes e importantes festivais internacionais, como o Short Film Corner do Festival de Cannes, Festival de Animação de Annecy, Animamundi e Dok Leipzig. São duas obras nacionais – “Dara – A Primeira Vez que Fui ao Céu” (Brasil, 2017, 18 min) e “Caminho dos Gigantes” (Brasil, 2016, 12’) – e três internacionais – “Dois Trens” (Rússia, 2017, 10’), “O Sonho da Galinha” (Estônia, 2016, 5’) e “Strollica” (Itália, 2017, 10’).
A itinerância da 8ª Mostra Ecofalante em Santos é uma realização da Ecofalante e tem apoio do Mercado Livre, da White Martins e da Kimberly Clark.
Clique para acessar a programação completa.
Serviço
8ª Mostra Ecofalante de Cinema – Itinerância Santos
Entrada gratuita
Data: 17 a 23 de outubro
Locais: Cine Arte Posto 4, MISS, Cine ZN, Vila Criativa – Morro da Penha e Vila Criativa – Vila Progresso
Programação: http://ecofalante.org.br/evento/santos/programacao/