O longa brasileiro “O Bem Virá” foi o grande vencedor da Competição Latino-Americana da 11ª Mostra Ecofalante de Cinema. Dirigido por Uilma Queiroz, o documentário acompanha a busca por treze mulheres que, em 1983, em uma seca no sertão do Pajeú pernambucano, lutaram pelo direito à sobrevivência. A obra foi premiada com o troféu Ecofalante e R$ 15 mil na noite deste sábado, 13 de agosto, na cerimônia de premiação realizada no Centro Cultural São Paulo.
“O filme que escolhemos premiar revisita o horror da fome no Nordeste do Brasil, de uma perspectiva feminina e sertaneja. Com uma frontalidade desconcertante, dá forma à fome, através de relatos de histórias de vida, num dignificante gesto de subversão de sua condenação”, afirmou o júri da Competição, composto por Tetê Mattos (professora, cineasta e curadora), Amaranta César (professora e curadora) e Ceci Alves (cineasta). “Com 13 mulheres, 13 vidas em gestação e uma fotografia do Brasil, retrata-se tanto as opressões de uma nação exploradora e patriarcal, quanto as formas de resistência feminina que insistem em afirmar e proteger a vida. Do sertão pernambucano, da transmutação da fome, do ventre de mulheres em luta, brota, em filme, a esperança: o Bem Virá!”
Duas menções honrosas foram concedidas a longas-metragens nesta edição. Sobre “Rolê – Histórias dos Rolezinhos”, de Vladimir Seixas, o júri destacou a força e necessidade do filme “pelo modo como aborda os danos públicos e individuais do racismo ambiental nos grandes centros urbanos brasileiros, através de performances ativistas, gestos inventivos e relatos pungentes de pessoas negras e periféricas”. Já “A Opção Zero”, de Marcel Beltrán, uma coprodução Cuba/Colômbia/Brasil, recebeu a menção por registrar “cada passo da longa e tortuosa jornada da imigração ilegal. (…) Ao filmar enquanto fogem da pobreza, dos cerceamentos, dos bloqueios, convocam um filme, alimentam o desejo de visibilidade porque sabem que oferecer uma outra mirada é também confrontar a clandestinidade, manter a humanidade em foco.”
O Prêmio do Público na categoria longa-metragem foi para “Lavra”, de Lucas Bambozzi. O filme acompanha Camila, geógrafa, que retorna à sua terra natal depois de o rio de sua cidade ser contaminado pelo maior crime ambiental do Brasil, provocado por uma mineradora transnacional.
O prêmio do júri de Melhor Curta foi para “Mensageiras da Amazônia: Jovens Munduruku Usam Drone e Celular para Resistir às Invasões”, dirigido pelo Coletivo Audiovisual Munduruku Daje Kapap Eypi e por Joana Moncau. O curta acompanha as jovens do coletivo durante a produção de um documentário sobre as ações de seu povo para proteger a Amazônia e defender o território de invasores, sobretudo de madeireiros e garimpeiros. Segundo o júri, a obra foi escolhida “porque cinema é aqui instrumento de demarcação, reparação e preservação da floresta. Porque, neste curta, linguagem e tecnologia participam ativamente da defesa de um modo de vida tradicional que é garantia de futuro”. O filme ganhou o troféu Ecofalante e R$ 5 mil de prêmio.
“Terra Nova”, de Diego Bauer, recebeu menção honrosa na categoria curta-metragem; para o júri, “ao narrar um dia de luta por trabalho de duas jovens em plena pandemia de covid-19, com generosidade com suas personagens e atrizes, o curta-metragem aposta, de modo sutil e competente, e contando com belas atuações, no movimento dessas mulheres que não podem e não se deixam paralisar diante da tragédia sanitária e política.”
O Prêmio do Público na categoria curta-metragem foi para “Ser Feliz no Vão”, dirigido por Lucas H. Rossi dos Santos. Criado durante a quarentena a partir de imagens de arquivo, o filme é “um ensaio preto sobre trens, praias e ocupação de espaço”.
Concurso Curta Ecofalante
O grande vencedor do Concurso Curta Ecofalante foi “Yãy Tu Nunãhã Payexop: Encontro de Pajés”, de Sueli Maxakali. O filme se passa em julho de 2020, em plena pandemia de Covid-19, quando cerca de 100 famílias tikmῦ’ῦn-maxakali deixaram a reserva de Aldeia Verde (Ladainha, MG) em busca de uma nova terra. O júri do Concurso Curta, formado por Claudia Mesquita (professora e pesquisadora da UFMG), Gabriel Martins (diretor e produtor) e Joyce Cursino (cineasta), destacou “a importância estética e política do filme, que dá sequência à vigorosa filmografia dos Maxakali, povo que tem feito do cinema instrumento de retomada territorial, resistência, fortalecimento e reinvenção de sua própria cultura e modo de vida”. O curta ganhou o troféu Ecofalante e R$ 4 mil de prêmio.
“Quem Saiu Para Entrega?”, de Leonardo Roque Machado, Evaldo Cevinscki Neto e Paula Roberta de Souza, recebeu menção honrosa; o júri destacou “o ineditismo temático e a abordagem coerente do filme, que dá visibilidade à experiência precarizada de entregadores de comida em grandes cidades, de Sul a Norte do Brasil. Com imagens e falas gravadas pelos próprios trabalhadores, o documentário nos mostra como ‘tema’ e ‘linguagem’ podem se associar de modo potente e inventivo”.
Já o Prêmio do Público foi para “Não Me Chame Assim”, de Diego Migliorini. O curta de ficção acompanha a personagem Daniela, que recebe a notícia de que sua tão aguardada cirurgia de redesignação de gênero foi antecipada, e seu amante, Roberto, que tenta dissuadi-la da operação, revelando uma controversa relação que desperta angústias e crises.
Panorama Internacional Contemporâneo
Desde 2020, a Mostra Ecofalante premia também a escolha do público de melhor filme do Panorama Internacional Contemporâneo. O vencedor desta edição foi “Nosso Planeta, Nosso Legado”, dirigido pelo francês Yann Arthus-Bertrand. Neste documentário, o diretor revisita, onze anos após “Home – Nosso Planeta, Nossa Casa”, sua vida e sua trajetória engajada de quase cinco décadas. Priorizando o debate acerca dos danos ecológicos causados pelo ser humano, o filme apresenta soluções de reconciliação com a natureza e caminhos possíveis para um futuro menos devastado.
LISTA COMPLETA DOS PREMIADOS – 11ª MOSTRA ECOFALANTE DE CINEMA
PANORAMA INTERNACIONAL CONTEMPORÂNEO
Prêmio do Público
“Nosso Planeta, Nosso Legado”, de Yann Arthus-Bertrand (França, 2020, 100′)
COMPETIÇÃO LATINO-AMERICANA
Prêmio do Júri – Melhor Longa-Metragem
“O Bem Virá”, de Uilma Queiroz (Brasil, 2020, 80′)
Prêmio do Júri – Melhor Curta-Metragem
Mensageiras da Amazônia: Jovens Munduruku Usam Drone e Celular para Resistir às Invasões”, de Coletivo Audiovisual Munduruku Daje Kapap Eypi e Joana Moncau (Brasil, 2022, 17′)
Prêmio do Público – Melhor Longa-Metragem
“Lavra”, de Lucas Bambozzi (Brasil, 2021, 101′)
Prêmio do Público – Melhor Curta-Metragem
“Ser Feliz no Vão”, de Lucas H. Rossi dos Santos (Brasil, 2020, 12′)
Menção Honrosa do Júri – Longa-Metragem
“Rolê – Histórias dos Rolezinhos”, de Vladimir Seixas (Brasil, 2021, 82′)
“A Opção Zero”, de Marcel Beltrán (Cuba, Colômbia, Brasil, 2020, 80′)
Menção Honrosa do Júri – Curta-Metragem
“Terra Nova”, de Diego Bauer (Brasil, 2021, 22′)
CONCURSO CURTA ECOFALANTE
Prêmio do Júri – Melhor Curta Ecofalante
“Yãy Tu Nunãhã Payexop: Encontro de Pajés”, de Sueli Maxakali (Brasil, 2021, 26′)
Prêmio do Público
“Não Me Chame Assim”, de Diego Migliorini (Brasil, 2020, 16′)
Menção Honrosa do Júri
“Quem Saiu Para Entrega?”, de Leonardo Roque Machado, Evaldo Cevinscki Neto e Paula Roberta de Souza (Brasil, 2021, 20′)